Semana Mundial do Cérebro: neurocientista explica como manter o cérebro 100% conectado


Nesta semana, diversas ONGs e universidades ao redor do mundo celebram a Semana Mundial do Cérebro, organizada pela instituição americana Dana Foundation. 

“Apoiamos as pesquisas da neurociência porque entender o funcionamento do cérebro é a melhor de forma de fazê-lo trabalhar melhor, tanto em suas funções como memória, concentração e foco, ou quanto no gerenciamento de emoções”, explica Carla Tieppo.

A Semana Mundial do Cérebro é uma campanha mundial de incentivo às pesquisas da neurociência, que tanto têm contribuído para os avanços das tecnologias usadas na prevenção e no tratamento de doenças cerebrais, na construção de inteligência artificial, na evolução de métodos de ensino, e no desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais

Diferente do que se pensava há pouco, estudos mostraram que o cérebro adulto também consegue se conectar e aprender novas tarefas, não exatamente como o cérebro de uma criança, mas é capaz.

De acordo com Carla Tieppo, a plasticidade cerebral engloba um grande número de mecanismos neurobiológicos pelos quais o cérebro humano aprende e passa a dominar novas habilidades.

“A capacidade de plasticidade do cérebro tem variações ao longo da vida. Durante a infância e a adolescência, a neuroplasticidade flui. Na vida adulta, surgem vários freios moleculares e fisiológicos que agem para desligar essa neuroplasticidade, mas isso não acontece totalmente”, afirma a neurocientista.

O cérebro mais velho ainda consegue absorver novas habilidades pois ele permanece plástico até o fim da vida. Mas, diferentemente de um bebê que tem um cérebro que experimenta “plasticidade para tudo”, o adulto precisa de um esforço a mais. Um bom exemplo disso são os atletas, cirurgiões, músicos e grandes nomes da literatura e da arte que, além do talento inato, também investiram horas praticando até que conseguissem se destacar em suas respectivas áreas.

“Se pudéssemos mapear os cérebros dessas pessoas, poderíamos ver um excepcional desempenho que é adquirido durante aproximadamente dez anos de prática. E essa prática não é um simples treinamento. É uma atividade altamente estruturada em que a pessoa se envolve com o objetivo específico de melhorar sua performance. E isso envolve repetições, esforço e feedback do treinador ou mentor”, disse Carla Tieppo.

Mas, aliados à prática, existem outros fatores que ajudam a pessoa a aprender uma nova habilidade, como por exemplo: motivação, pensamento positivo e visualização do objetivo. A capacidade inata do cérebro adulto para a neuroplasticidade adulta pode ser aproveitada quando condições específicas para essa plasticidade são satisfeitas, como em casos recompensadores, cruciais para sobrevivência ou quando a questão é considerada importante.

“É importante mencionar que qualquer mudança precisa ser construída em uma base de boa saúde cerebral”, explica Carla Tieppo.

- Confira os seis passos para conectar o cérebro e aumentar a capacidade de plasticidade e domínio de um cérebro adulto:

- Razões: Encontre seu porquê

.Qual é seu objetivo? Qual habilidade, comportamento ou mentalidade que você quer aprender, mudar, dominar ou aperfeiçoar?

.Ter clareza em torno do seu objetivo gera confiança, motivação e excitação ao invés de medo e incerteza;
Saber qual é o seu objetivo permite estabelecer “metas mínimas”;

.Essas metas mínimas te preparam para algumas vitórias fáceis iniciais. Vitórias fáceis que fecham um ciclo de feedback e disparam os caminhos de recompensa da dopamina no cérebro. Recompensa aumenta o aprendizado e ativa motivação;


- Envolvimento: Absorva-se em aprender a tarefa. Tenha feedback dos melhores

.Foque em aprender uma nova habilidade;

.Determinação em uma tarefa é vital (multitarefa leva ao esgotamento cognitivo);

.Tenha um professor, treinador ou guia para te fornecer um feedback;

.Um aviso para professores, treinadores ou guias: você deve agir como um recurso e não como um microempresário do processo. Motivação vem da autonomia e do domínio. Nós todos respondemos a recompensas internas e não externas;


- Encontre o ponto principal entre o tédio e o medo

.Encontre seu fluxo. Do ponto leve ao moderado de ativação, o cérebro está em ótimo estado para aprender. Em níveis muito baixos ou muito altos de estimulação, a aprendizagem é inibida. Nós vemos isso em todos os níveis neurobiológicos desde a sinapse até o comportamento;

.Tédio é um sintoma de subexcitação – talvez a nova tarefa não esteja testando você. Tente preparar um objetivo maior, mudar alguns pontos do objetivo ou mudar o ambiente em que você está treinando;

.Medo é um sintoma de excesso de excitação – talvez a tarefa esteja muito difícil. Isso supera seu nível de habilidade? Talvez você não tenha “mirado” seu desafio em partes ou projetos viáveis;


- Imagine: ensaie em sua mente

.Pensar e fazer estão no mesmo cérebro. As mesmas áreas do cérebro são ativadas quando você completa uma atividade motora e quando você ensaia mentalmente a mesma tarefa;

.Músicos e atletas comumente usam ensaio ou visualização mental para ajudar a ativar o domínio;

.Você pode ensaiar mentalmente como você vai responder emocionalmente a um evento. Tente ensaiar como você vai responder emocionalmente se você acertar um obstáculo ou falhar;

.O ensaio mental pode ser pensado como prática quando você não consegue praticar


- Repita: prática torna-se perfeita devido à neuroplasticidade

.Pratique (pratique e pratique) sua nova habilidade, comportamento e mentalidade;

.Neurônios que “acendem” juntos, ficam ligados. Neurônios que estão fora de sincronia falham ao se conectar;

.Prática supera o talento. O gênio não nasce gênio. Em vez disso, ele constroi sua capacidade de dominar o que quer fazer;

.É aqui que a determinação entra. Detalhe, a prática nem sempre é divertida.

Ampliar: mudar requer que você se mova para fora da sua zona de conforto

.Repetir a mesma tarefa várias vezes não é o suficiente para melhorar. Você deve praticar no limite da sua capacidade;

.Amadores praticam até fazerem tudo corretamente. Profissionais praticam até que não possam errar


Fonte:  Carla Tieppo - neurocientista e palestrante