Brasil tem menos de 13% do seu território em áreas protegidas


George Schaller, biólogo alemão que é referência no estudo de espécies emblemáticas como os gorilas-de-montanhas e os pandas, participou da oitava edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC) neste mês. O pesquisador falou sobre o papel das áreas protegidas na economia mundial​, no futuro da sociedade​ e, principalmente, na conservação​ da natureza.

Dados​ do Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostram que o Brasil possui pouco mais de um milhão de km2 de áreas naturais protegidas, equivalente a apenas 12​,8% de toda extensão do território nacional.

​Aos 82 anos de idade e com mais de seis​ décadas de experiência em pesquisa nos seis continentes, o conservacionista veio ao Brasil especialmente para o evento que é promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em comemoração aos 25 anos da ONG. 


Segundo Schaller, as áreas protegidas são essenciais para o futuro porque se forem realmente conservadas, elas irão garantir que as pessoas tenham um futuro equilibrado. 

“Se analisarmos por que São Paulo, por exemplo, está sofrendo com a crise da água? Porque não existem florestas suficientes nos arredores dos mananciais para produzir água. Tudo que queremos e precisamos vem da natureza e muitas vezes nos esquecemos disso”, afirma.

George Schaller explica que é preciso garantir a conservação efetiva dessas áreas e, para atingir esse objetivo, é necessário o envolvimento da comunidade o que é um ponto crítico. 

“Como nós podemos convencer a sociedade a proteger o seu próprio futuro? Como nós podemos conseguir benefícios econômicos com isso? Quais benefícios? São perguntas importantes que precisam ser respondidas agora e para isso precisamos de políticos que se interessem pela causa”, ressalta.

Ao ser questionado como as áreas protegidas podem melhorar a vida das pessoas, George Schaller é categórico: “essa é a pergunta mais difícil em conservação. Todos querem mais desenvolvimento, mas quanto mais se tem desenvolvimento, menos se está inclinado a melhorar a vida das pessoas em longo prazo, porque esse crescimento não é sustentável”. 

Segundo ele, é preciso encontrar formas pelas quais a comunidade entenda que ela depende dessas áreas protegidas, pois elas oferecem os chamados serviços ambientais, como a produção de água, a regulação do microclima, a purificação do ar e fertilização do solo. 

“Uma forma bem simples e simplista de explicar é que se nós destruirmos as florestas e, por consequência os mananciais, iremos destruir a nós mesmos”, conclui.

Em sua palestra​,​ o biólogo destacou que a sociedade tem agido como se o planeta fosse um grande supermercado, como se os recursos fossem infinitos.

“Nós usamos mais recursos da Terra nos últimos 50 anos do que em todo o resto da história humana. Como será o futuro que estamos criando? Então, precisamos que um esforço coletivo seja feito para atingir um equilíbrio entre o desenvolvimento e a conservação, aliando a participação da comunidade e dos políticos”, comenta.

- E o Brasil?

George Schaller visitou o país pela primeira vez nos anos 70 e afirma que desde então o Brasil cresceu bastante em ações de conservação, com reservas criadas, profissionais capacitados e milhares de pesquisas realizadas. 

“Mas normalmente ainda enfrenta-se o problema da falta de investimento em conservação e estímulo à agropecuária desequilibrada”, ressalta.
Ele exemplifica com a situação do Cerrado que já perdeu 80% da sua cobertura original e hoje tem apenas 8,2% do seu território protegido. 

“E para quê? Para plantar soja que futuramente será usada para alimentar os porcos da China. Será que essa é a maior preocupação do Brasil? Alimentar os porcos da China?”, comenta triste.

George Schaller finaliza afirmando que todos têm responsabilidade na conservação da natureza. “Não existe quem não possa contribuir de alguma forma, desde crianças pequenas até idosos. Seja separando o lixo e destinando adequadamente, protegendo mananciais ou engajando-se em ações para proteger a comunidade”, conclui.


Fonte: Maria Luiza Campos