Especialista em recursos hídricos defende mudança no Brasil para a "cultura da escassez"





O conferencista José Galizia Tundisi, pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IEE), falou sobre o tema "Recursos hídricos: caminhos para o futuro" na manhã de 16/7, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Dando um panorama mundial sobre os recursos hídricos, Tundisi abordou as possibilidades de gestão que estão sendo discutidas no Brasil e no mundo.

"Essa crise hídrica não é atual. Vem de longa data e não se resume a secas mas, também, a extremos hidrológicos. As enchentes também têm relação direta com a vida humana", afirmou. Ele defende uma mudança na cultura que permeia o País. 


"Antes aprendíamos que as cores da nossa bandeira significavam abundância do ouro, das riquezas, dos recursos naturais. Tínhamos a cultura da abundância. Agora, temos de mudar para a cultura da escassez", defendeu. Para ele, a seca trouxe uma percepção mais aguda da população sobre esses problemas.
De acordo com dados da Unesco de julho de 2014, apresentados por Tundisi, 768 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a fontes adequadas de água. Além disso, 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico adequado. 

"O Brasil trata apenas 30% da água dos esgotos. Isto não é Século XXI. Isto é Século XIX. O professor Celso Furtado dizia que o Brasil se moderniza mas não se desenvolve. Precisamos ficar atentos a essa dicotomia", afirmou, ao citar o economista.

Novos problemas também foram apontados pelo pesquisador. De acordo com ele, medicamentos, hormônios, cosméticos, agrotóxicos e outras substâncias têm causado alteração da água em todo o Planeta. 


"Isto aumenta a toxicidade da água, tanto superficial quanto subterrânea, afetando a economia e a saúde humana, com muitos efeitos ainda não identificados", explicou. 

Essas substâncias acumuladas também aumentam a complexidade analítica da água, exigindo laboratórios e equipamentos altamente qualificados, que nem todo país pode ter", apontou.

Apesar dos problemas, Tundisi destacou aspectos otimistas. Para ele, há uma eficiência maior no uso dos recursos hídricos, as tecnologias – como as usadas na dessanilização, por exemplo – estão mais avançadas e há um melhor entendimento das interações entre clima, hidrologia e respostas dos ecossistemas. 


Além disso, houve um aumento da cooperação internacional, na qual o European Framework Directive é um paradigma, por ter um protocolo rígido de uso da água que é seguido à risca pelos países componentes.


Entre os desafios para o futuro, Tundisi chamou a atenção para a necessidade de uma postura preditiva no gerenciamento dos recursos hídricos, evitando "surpresas". 

"Os ecossistemas não funcionam igual de um ano para o outro. O banco de dados não prevê essas surpresas. Temos de estar preparados", concluiu.


Fonte: UFSCAR