Qual o lucro necessário para sua empresa ?




Saber qual o lucro necessário para uma empresa é uma questão de, no mínimo, bom senso empresarial. Embora já tenhamos insistido no ponto da empresa sempre investir num sistema financeiro para tomar decisões com segurança, o que se vê, na prática, é um amontoado de bobagens por aí.

No máximo, as empresas têm um sistema de “juntar dados”. Tecnicamente, chamamos esses sistemas de “sistemas de informação”. O que as empresas necessitam é de um sistema de decisão. Somente com um sistema voltado totalmente para a decisão é que uma empresa pode:

- Medir o tamanho de seu problema;
- Identificar as verdadeiras causas;
- Formar uma equipe para resolver e aprender com o problema;
- Resolver de uma vez por todos os problemas.

Para solucionar esse espaço na vida das empresas brasileiras, existe uma metodologia capaz de conduzir as empresas rumo ao conhecimento real de sua vida financeira. É fundamental incorporar tal pensamento na sua empresa porque é simplesmente impossível caminhar rumo ao crescimento e desenvolvimento do negócio utilizando-se somente de um “contas a pagar”, “contas a receber”, “fluxo de caixa”, etc. Pior ainda são os empresários que teimam em controlar os números da empresa no maldito caderninho.

Não por acaso, as empresas estão sentindo mais problemas financeiros que antes. As margens de lucro, por exemplo, estão literalmente despencando. Num recente estudo preparado para uma empresa, verificaram-se os seguintes resultados. De 1994 a 1996 (eram os dados disponíveis) as vendas aumentaram 2,79% (de R$ 272,70 bilhões para R$ 280,30 bilhões) contra uma queda assustadora da margem de lucro de 46,03%.

O mundo globalizado e competitivo atual não deixará que a incompetência de gerir as finanças seja, novamente, a mamata que o Brasil atravessou até muito recentemente. Estes programas de qualidade e de normatização da qualidade não passam de quimeras e de “enfeites de árvore de natal”, quando na verdade as empresas estão precisando de um choque profundo de conhecimento para enfrentarem, com pé de igualdade, seus concorrentes mundiais.

Hoje, mais que nunca, a frase “pensar globalmente, agir localmente” possui um significado ímpar. Neste sentido, pense globalmente. Os concorrentes do resto do mundo têm sistemas fortes de decisão financeira. E você? Se não tiver, aja localmente; isto é, implante um em sua empresa. O lucro necessário é formado baseado numa série de informações de decisão financeira. O custo da não-implantação de um sistema poderá ser fatal: a eliminação da empresa!

A maior de todas as dificuldades do empresário em responder a esta pergunta reside nos seguintes pontos:

- Incerteza na formação do preço de venda de seus produtos — em geral as empresas aplicam um mesmo mark-up para todos os produtos. Isto é, no mínimo, uma insensatez, posto que cada produto possui um valor esperado pelo cliente, custos diferentes, pesos diferentes, tributação diferente. Enfim, quer-se aplicar uma mesma regra (igual) para coisas diferentes. Se a empresa pratica esta pobre política de preços, já é um mau caminho trilhado;

- Não existe memória dos números da empresa. Pior ainda é que os números à disposição para possíveis estudos não têm uma metodologia confiável. Na maioria dos casos cada empresa “cria” sua própria metodologia. De uma vez por todas: Finanças é uma ciência e deve ser respeitada como tal. Não se faz necessário ficar quebrando a cabeça, as principais dúvidas em finanças já foram resolvidas. Não reinvente a roda ! Faça a coisa certa (e rápido);

- Não se conhece o verdadeiro problema do financiamento das operações de uma empresa

As empresas podem atravessar tempos de bonança ou de tormentas com mais ou menos “Sorte dos Deuses”. A alternativa é partir para uma verdadeira revolução em suas estruturas internas. Remova todas as traças e percevejos do passado que só estão corroendo, dia a dia, as finanças do negócio. Cada dia perdido é um custo formidável que as empresas não podem mais se dar o luxo de conviver com ele. Sabemos que o lucro provém de duas abordagens: uma interna e outra externa.

Conhecendo-se os conceitos de lucro, do ponto-de-vista interno e externo da empresa, pode-se concluir que a grande parte das empresas brasileiras está totalmente perdida. Perdida porque as grandes conclusões que se escuta por aí é:

- As coisas estão ruins. Então, é melhor cortar despesas antes que algo de pior ocorra;

- Minhas vendas até estão se mantendo, mas eu não vejo a cor do dinheiro;

- Vou colocar um sistema de computador que poderei eliminar 3 pessoas;

Todas estas tentativas de economizar algo para perceber algum resultado concreto, só tem levado as empresas à ruína mais cedo. Felizmente, finanças não são para amador. Ocorre que tem muito amador, demais até, comandando os números das empresas. De uma vez por todas, finanças não são contas a pagar, contas a receber, faturamento, contato com bancos, contabilidade.

Evidentemente, isto não é uma tarefa fácil. A maior barreira é a da crença que toda esta conversa é muito importante para o crescimento da empresa no cenário competitivo. A conquista da liderança de seu mercado pelo seu conhecimento, e com planejamento, ou a eterna crença que sem planejar e com golpe de sorte tudo dará certo. Os dados estão lançados. E você é o jogador. Caberá decidir se confia na sorte da roleta ou na sua capacidade de planejar.

Abaixo, há um quadro comparativo entre os dois tipos antagônicos de empresas. Verifique em que lado a sua está e tome as providências.

Empresa com Relatório Gerencial
Empresa sem Relatório Gerencial

Tomada de decisões baseada em dados reais da empresa e com critérios amplamente aceitos;
Tomada de decisões baseada em experiências anteriores, na concorrência e no “achismo”;

Números da empresa são de conhecimento amplo dentro dela;
Alguns poucos números são conhecidos por um pequeno grupo;

Existência de um critério para medir o verdadeiro custo da empresa;
Custo da empresa é controlado pelo extrato bancário ou no maldito caderninho;

Existência de um Planejamento Financeiro e Controle Orçamentário;
Existência de choradeira na hora de pagar as contas;

Primeiro se planeja e depois de executa;
Somente existem coisas urgentes a serem feitas;

O lucro é conhecido e repartido de acordo com as necessidades de crescimento da empresa;
O lucro é uma abstração, um fantasma, uma figura de linguagem; enfim, ninguém nunca o viu;

Existência de planos alternativos para se lidar com a mudança de cenários da economia;
Existência de improvisos marreteiros de última hora;

Todos na empresa conhecem os objetivos a conquistar e lutam por ele. Há harmonia e clima de disputa saudável;
Ninguém, inclusive sócios, se entende. Há desarmonia e um clima de insatisfação geral e somente objetivos individuais.

Após ler o quadro comparativo, o empresário deve notar quais características têm mais de semelhante com a sua empresa. Seria uma satisfação enorme encontrar a esmagadora maioria na coluna esquerda. Porém, a experiência mostra que encontraremos um número excessivo de empresas na coluna direita. Para estas, tenho a dizer:


1.) Não deixe a ignorância ganhar mais espaço do que já tem atualmente na organização;


2.) Não deixe a arrogância perante o mercado fazer com que você perca mais terreno à concorrência;


3.) Não permita trocar pessoas qualificadas e com um salário adequado por pessoas a fim de ganharem menos, somente;


4.) Não exceda os seus gastos pessoais neste momento. Talvez o cliente já esteja insatisfeito por pagar este luxo;


5.) Não seja arrogante pensando que o seu método seja eficiente. A ciência já avançou bastante para provar que, na grande parte dos casos, tudo o que se sabe como administrar uma empresa está errado. Então, renda-se a esta ciência maravilhosa chamada Finanças com seus métodos e conhecimentos;


6.) Não pense que a mudança é somente uma palavra morta. Ela a cada dia se mostra mais viva e mais corada; disposta mesmo a retirar do mercado os incompetentes em conhecê-la e conviver em eterno processo de modernização, sobretudo de pensamento;


7.) Não veja no seu funcionário um inimigo. Pelo contrário, veja-o como um aliado. Proponha uma nova forma remunerá-lo e esqueça os sindicatos e o governo;


8.) Não seja copiador, inove!


9.) Não se iluda com estes modismos furados de ISO 9.000, QS, 5 S. A qualidade começa e termina no cliente; pois é feita para ele e, de preferência, com o cliente. Não será um bando de engenheiros loucos para enfiar, goela abaixo, uma centena de normas que fará a diferença;


10.) Finalmente, não apenas leia este artigo e depois o atire a sua mesa. Coloque em prática tudo que se falou. A leitura é importante, mas a prática de tudo o que foi escrito é melhor ainda!

Finalizo dizendo que o lucro necessário para sua empresa virá da conjugação dos esforços de dentro para fora da empresa e vice-versa. Agora, arregace as mangas e mãos à obra!


Enviado por : Adriano Gomes - Administrador de empresas (ESAN-SP), pós-graduação em finanças (ESAN-SP), mestre em controladoria e finanças (PUC-SP), cuja dissertação mereceu 10 com louvor e recebeu prêmio ENAMPAD, doutor em ciências sociais (PUC-SP) com tese sobre a responsabilidade social das instituições financeiras.