Alguns motivos pelos quais eu odeio a palavra “sustentabilidade”




Eu odeio a palavra “sustentabilidade”. Não me leve a mal, caro leitor. Também odeio palavras como “paradigma”, “reengenharia”, “recursos”, “alavancar” e várias outras que, de tão usadas, acabam não significando nada. Mas a bola da vez é a sustentabilidade.

Tudo começou com algo chamado “externalidades”. A grosso modo, externalidade é quando algo que você faz atinge alguém de fora. Se você dá uma festa em seu apartamento e incomoda os vizinhos com o barulho, está gerando uma externalidade negativa. Um pessoal que não tem nada a ver com sua festa está sendo incomodado com a sua diversão. 

O mesmo ocorre quando você resolve comprar um carro e deixar de andar de transporte público - você fica mais confortável, mas o carro de cada um de nós ocupa espaço na rua e polui o ar que todos os outros respiram.

Simples assim. Dizer que algo é sustentável, portanto, é identificar as tais externalidades negativas de uma atividade, e procurar formas de causar menos mal à nossa volta. 

Em tese tudo isso é ótimo, a própria ideia de stakeholder é procurar fazer com que administradores de empresas observem o ambiente ao seu redor e procurem uma forma de diminuir qualquer mal que façam, seja ao ambiente, à vizinhança, a uma classe de funcionários e assim por diante.

Quem, afinal, quer causar problemas à sua volta? Tornar um negócio ou uma empresa em algo sustentável significa dizer que ela “se sustenta” e não depende de prejudicar ninguém com suas atividades. 

Claro que no mundo real poucas fábricas realmente conseguirão zerar seu impacto negativo em todas as áreas possíveis e imagináveis, mas a diminuição de tais impactos, junto ao avanço da tecnologia, é o melhor caminho para tornar o mundo mais sustentável de uma forma equilibrada e realista. Um carro que faz 12 quilômetros por litro é preferível a um que faça 8.

Qual o problema, então, com o termo “sustentabilidade”? O problema é que como outros temas que entram na moda, o termo foi sequestrado por pessoas, empresas e organizações que querem “sustentar” seus próprios interesses.

Apesar das propagandas, não creio que ser sustentável signifique fazer xixi no próprio pé durante o banho, deixar de receber sacolas plásticas no mercado (que, pelo menos na minha casa, costumavam ter uma segunda vida como sacos de lixo), ir a um show com o termo “sustentável” no nome ou fazer qualquer tipo de demonstração como a “hora do planeta”, em que milhões de pessoas apagam a luz por uma hora e se sentem mais satisfeitas consigo mesmas por estarem ajudando o mundo – não estão, pois o número de acidentes costuma subir em locais que adotam essa iniciativa, além do fato de que milhões de pessoas desligando e ligando sua energia elétrica no mesmo horário pode causar problemas e custos adicionais ao sistema de gestão de energia.

Ser sustentável vende. Muitas pessoas estão até dispostas a pagar mais por algo com o selo “sustentável” do que um produto semelhante sem o selo. Existem boas e belas iniciativas, mas como sempre, há pessoas, empresas e organizações tirando proveito da situação, ganhando votos, dinheiro e participantes para suas causas por motivos que em última análise são bastante egoístas.

Há pouco tempo atrás, um empresário me contou que quando vê alguém dizer que sua iniciativa e empresa é sustentável, pensa se a mesma pessoa diria que é honesta. Afinal, ser honesto é um ponto de partida, e se alguém precisa nos contar que é honesto, o melhor a fazer é pensar em quais as reais intenções dessa pessoa. 

O mesmo deveria valer para a sustentabilidade. Ninguém deveria ser admirado somente por ser honesto. Nem por ser sustentável. Afinal, seja em nossas vidas pessoais seja em nosso ganha pão ou nos produtos que consumimos, quem quer fazer mais mal do que bem em nossa passagem pelo mundo?

Quer se tornar mais sustentável? Analise como você, seus comportamentos e produtos impactam o mundo à sua volta, procure meios de diminuir seu impacto negativo e aumentar o positivo. Simples assim.

O resto é discurso.


Autoria : Fábio Zugman - Consultor de empresas, é autor de diversos livros, entre os quais "Empreendedores esquecidos" e "Administração para profissionais liberais".