As cidades brasileiras já começaram a oferecer uma infraestrutura mais moderna
e densa para facilitar a vida de seus moradores; os investimentos em trens,
metrô, ônibus e outros meios (como os monotrilhos) se multiplicam, em parte
pelas exigências da Fifa para eventos esportivos de 2013 e 2014, em parte em
razão da pressão dos eleitores, que miram em problemas locais para escolher seus
governantes. E assim o cenário brasileiro vai se transformando nesse grande
canteiro de obras que o leva à modernidade.
Os problemas são muitos, herança de
sua própria história, mas a verdade é que os horizontes são promissores e os
investidores se sentem mais seguros e confortáveis para acreditar nesse futuro
brasileiro. Ainda há um longo caminho a percorrer até que a qualidade de vida
atinja um nível desejável, principalmente nas maiores cidades, como São Paulo e
Rio.
Mas vale ressaltar as boas notícias
que alicerçam essa crença, a começar pelo programa de investimentos em
infraestrutura anunciado pelo governo em agosto. Serão aplicados R$ 133 bilhões em nove
trechos de rodovias e doze trechos de ferrovias para reduzir o custo de
logística no País; ou seja, o plano prevê a construção de 7.500 quilômetros de
rodovias e dez mil quilômetros de ferrovias. Deverão ser aplicados R$ 75 bilhões
em cinco anos e R$ 53,5 bilhões em 20 a 25 anos. O programa acelera as
concessões e reforça o investimento privado em
infraestrutura.
Nas ferrovias, o
programa traz como novidade a quebra do monopólio no uso das estradas de ferro e
mecanismos que estimulam a redução de tarifas. O governo federal será
responsável pela contratação, construção, manutenção e operação da ferrovia.
Haverá separação entre o responsável pela infraestrutura física e o usuário e a
criação de um novo player, o operador.
Além de avançar na infraestrutura básica,
para a redução do Custo Brasil no transporte de carga, o programa do governo
resgata para os brasileiros a perspectiva da volta do trem de passageiros,
praticamente banido em favor das rodovias. E não falamos aqui do trem-bala, que
é outra frente aberta pelo governo, mas daquele trem que percorria as linhas de
ferro de nosso Interior com toda a sua poesia.
Agora dotado da mais alta tecnologia e embalado em muita beleza e funcionalidade, como os veículos sobre trilhos que circulam pelas cidades da Europa para desafogar o trânsito.
Agora dotado da mais alta tecnologia e embalado em muita beleza e funcionalidade, como os veículos sobre trilhos que circulam pelas cidades da Europa para desafogar o trânsito.
Se lá funciona, aqui também pode
funcionar, especialmente no transporte intermunicipal. Para implantar esse
programa de infraestrutura, o governo criou a Empresa de Planejamento e
Logística (EPL) e seu presidente, Bernardo Figueiredo, enche o setor de otimismo
ao afirmar:
“A primeira coisa que se precisa para ter trens de passageiro é uma
ferrovia, onde os trens possam circular. O que estamos construindo agora é essa
base ferroviária, e estamos adotando um modelo que permite que a gente volte com
o transporte de passageiros”.
O novo modelo de concessão estabelece que as
empresas que construirão as ferrovias não poderão estabelecer limites para
circulação de trens de passageiro, que será livre. A ferrovia será aberta a
qualquer tipo de trem que queira comprar o direito de circular
nela.
Enfim, o governo lança
pela primeira vez em décadas um programa de investimentos em logística em que a
ferrovia prevalece sobre a rodovia: o trem fica com 70% do total a ser investido
e o caminhão com pouco mais de 30%.
O governo acona com fraestrutura maior, mais
moderna, conjugada a um sistema de logística eficiente em todos os setores, como
portos, aeroportos, ferrovias e ferrovias. Há problemas a enfrentar em todos
eles, claro, pois foram muitas décadas de abandono. Para citar um exemplo: no
Brasil, dois terços de toda a carga trafegam pelas rodovias. Nos EUA, só 38%. As
ferrovias respondem por 19,5% da carga transportada no Brasil; nos EUA, esse
índice é de 28,7%.
A rede ferroviária
brasileira, de 29 mil quilômetros, é hoje menor do que foi há 90 anos. Empresas
de commodities dizem que há urgência nessas obras. Numa pesquisa feita pela
Fundação Dom Cabral junto a 126 empresas que geram mais de um quarto do PIB
brasileiro, a principal sugestão para a redução do custo do frete é a construção
de mais ferrovias.
Os economistas têm dificuldades para quantificar o impacto da
infraestrutura precária sobre a economia, mas concordam que as limitações na
rede de transportes e a saturação dos portos impedem a economia de crescer de
modo consistente acima de 4% ao ano, taxa necessária para que o Brasil
alcançasse o status de nação desenvolvida.
Mas, pelo andar da
carruagem e diante de todas as iniciativas tomadas recentemente, é bom que os
brasileiros mantenham o foco e o otimismo. O rumo tomado é o da modernidade e
solução de problemas.
Enviado por : Paulo Fontenele
é presidente da CAF Brasil, subsidiária
da Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles, uma das maiores fabricantes de
trens de passageiros do mundo.