Novos comportamentos e possíveis cenários na volta ao "novo normal"


A pandemia trouxe para o mundo um "novo normal". O que veio para ficar? o que se transformou de maneira drástica? Confira algumas mudanças e tendências nos setores de Turismo, Economia, Indústria, Saúde, Educação, Imóveis e Emprego.

- Economia: sem expansão fiscal e monetária, o caminho será a depressão econômica


• Reforma tributária ampla e mais abrangente: que contemple tributação sobre heranças, patrimônios e rendas. É preciso desonerar o consumo e as folhas de pagamento, pois pessoas e empresas precisam voltar a produzir e a empregar rapidamente para que o país volte a gerar riqueza.


• Emissão de moeda: o Estado precisa assumir para si a conta dessa crise. Além das reservas internas e cambiais - que ultrapassam R﹩ 1 trilhão - o Estado também pode emitir moeda, ou seja, injetar mais dinheiro na economia, e títulos da dívida pública, para que seja pago em longo prazo, em 20 anos, por exemplo, com juros baixos.


• Depressão econômica à vista? Sem essas políticas, o país corre sério risco de enfrentar sua primeira grande depressão econômica no século XXI. "Temos hoje um governo inoperante, que não está exercendo o papel que se espera dele em um momento de crise. Se deixarmos tudo se deteriorar, o sistema público, o sistema privado, as empresas, os empregadores, as indústrias e as pessoas físicas se endividando, vamos ter uma depressão econômica que irá se perdurar durante anos", explica o presidente da Afresp, Rodrigo Spada.


- Saúde: telemedicina vem pra ficar e saúde mental da população estará em evidência


• Telemedicina, um caminho sem volta: para Anderson Mendes, presidente da UNIDAS - entidade sem fins lucrativos que congrega mais de 4 milhões de vidas, a saúde, no cenário pós-pandemia, não retorna à normalidade. A telemedicina, por exemplo, veio para ficar. "Este processo é disruptivo e não é possível voltar atrás", explica. No entanto, apesar da aceleração, a mudança não será tão radical, pois as pessoas também desejam e precisam do contato físico com o médico. Fundamental daqui pra frente é a regulamentação da telemedicina.


• Utilização de pronto-socorros: haverá pessoas que vão sair normalmente e irão ao pronto-socorro e outras que também precisam de atendimento, como é o caso dos doentes crônicos, que não vão procurar os serviços por medo de sair do isolamento social. O fato é que haverá uma mudança de comportamento das pessoas.


• Sobrecarga do sistema: por conta da retomada gradual da rotina, já que muitas cirurgias eletivas e consultas foram adiadas para dar prioridade ao tratamento do coronavírus.


- Educação: necessidade de inclusão e letramento digital com ampliação do uso da tecnologia nas escolas


• Obstáculos ao ensino remoto: para Debora Noemi, diretora de Tecnologia Educacional da Happy Code, maior rede de escolas de tecnologia e programação para crianças e adolescentes, a necessidade de implantar o ensino remoto trouxe à tona a ausência de tecnologia, a falta de inclusão e de letramento digital e evidenciou a importância de trabalhar com modelos de ensino que considerem mudanças rápidas, incertezas e competências socioemocionais.


• Impacto nas crianças: elas enfrentarão várias dificuldades no retorno às aulas: impacto emocional, evasão escolar, necessidade de avaliação do nível de aprendizado de crianças e jovens e reposição da carga horária.


• Ensino híbrido: a especialista considera que o "novo normal" terá escolas um pouco mais digitais e um ensino mais híbrido. Por outro lado, para que isso aconteça será preciso investir, além de equipamentos, em educação tecnológica.


• A urgência do letramento digital: a pandemia trouxe à tona essa necessidade. O letramento digital está relacionado a aprender a utilizar a tecnologia, as ferramentas e o meio digital, saber ler e escrever informações digitais, que incluem sinais, códigos, imagens, entre outros. Mais que isso, interagir com esses ambientes digitais, com esses dados, e saber utilizar essas informações de forma lógica e estratégica.


• Crianças como protagonistas: as escolas devem aplicar metodologias de ensino mais ativas, que considerem fatores atuais como mudanças rápidas, incertezas e características únicas das novas gerações, para colocar o aluno no centro do processo, trabalhar habilidades socioemocionais e fazer com que as crianças sejam protagonistas da sua formação.


• Transformação: segundo o gerente da área de Educação da Catho, Fernando Gaiofatto, Se por um lado, a retomada da educação presencial em 2020 ainda não está definida, por outro, o EAD ganhou maior aderência. De modo geral, esse momento se transformou em uma grande degustação sobre este modelo. "Esse momento é de grande importância para modernização do ensino, para revisitar modelos de negócios, operações e processos", finaliza.


- Mercado de trabalho:adaptação às realidades atual e futura estará cada vez mais presente em empresas, profissionais e candidatos


• Habilidades fundamentais: com relação aos profissionais, o CEO da Catho, Fernando Morette, destaca que algumas habilidades principalmente os soft skills como resiliência, flexibilidade, liderança e empatia, tornaram-se fundamentais e continuarão a ser avaliadas, e com mais ênfase, no pós-pandemia.

• Trabalho remoto: o trabalho remoto veio para ficar, mas não pode ser aplicado por todas as empresas, como comércio, indústria, alguns setores de serviços e saúde

• A entrevista de emprego também mudou? A busca de emprego durante a pandemia também passou por mudanças. As empresas optaram pelo recrutamento on-line e os candidatos também tiveram que se adaptar a essa nova realidade como, por exemplo, fazer entrevista por aplicativos de vídeo e até por whatsapp. E isso seguirá como tendência.


• Qualificação profissional a distância: em paralelo ao trabalho remoto há também a qualificação profissional a distância. Segundo levantamento realizado pela área de Educação da Catho, foi observado no mês de maio um aumento de 78% nas buscas por cursos EAD, dentre eles 44% são voltados para cursos rápidos.


- Indústria: fortalecidas na imagem e combalidas pela falta de investimentos do Estado

• Futuro comprometido: quando se fala em um panorama da indústria de dispositivos médicos após o período da pandemia, as perspectivas são preocupantes. A ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) afirma que sem diálogo com o Estado e sem políticas públicas de incentivo fica difícil vislumbrar um futuro promissor para o setor.

• Um novo caminho: após a pandemia, a indústria do setor sai disso, provavelmente reconhecida como sendo de necessidade estratégica.

• Produção local x China: a indústria vai ter que se consolidar de uma maneira muito mais forte na produção local. Por diversos motivos, o mundo centralizou a produção na Ásia e a pandemia evidenciou que os países não podem ficar tão subordinado a isso.

• Reconversão: algumas empresas tiveram de fazer a reconversão para atuar dentro da pandemia para atender demandas paralelas como EPIs e até produção de álcool em gel. Mas a grande parte ainda se encontra em dificuldades e sairá extremamente fragilizada depois da pandemia.

- Mercado imobiliário: retomada será incentivada por queda nos preços, digitalização e adequação de serviços

• Crescimento freado: A pandemia da Covid-19 freou as previsões de crescimento consolidado para o mercado imobiliário nacional este ano. Segundo levantamento da proptech inGaia, líder em tecnologia para o mercado imobiliário, houve queda de 54% em compra e locação de imóveis usados desde o início das medidas de isolamento social tomadas pelos governos estaduais, em março de 2020.

• Porém, o futuro é promissor: Impulsionado pela queda de preços e juros baixos, o mercado imobiliário brasileiro voltará forte. "Vemos que há uma demanda reprimida durante esses meses de isolamento", explica o presidente da inGaia, Mickael Malka.

• E tecnologia deve respaldar esse futuro: indiscutivelmente a tecnologia se tornou a maior aliada dos profissionais do setor. Para além das estimativas econômicas, o setor imobiliário será ainda mais digitalizado, pois para se manter, durante a pandemia a transformação digital de imobiliárias e corretores foi acelerada. Por meio de softwares e aplicativos, todos os serviços que compõem o funil de vendas de imóveis puderam ser feitos de maneira virtual. Da administração de contratos financeiros, a vistorias por aplicativos.


- Turismo: viajantes buscarão por destinos seguros e sustentáveis


• O turista do futuro: ele será mais consciente em questões sociais e ambientais. E a Alemanha é um dos países mais bem preparados com infraestrutura completa e diversas opções de destino com essas características, segundo a diretora do Centro de Turismo Alemão (DZT) no Brasil, Margaret Grantham. "A pandemia acelera mudanças que já estavam em curso no turismo, como a adoção de práticas cada vez mais sustentáveis", explica.


• A natureza manda: neste primeiro momento o viajante buscará destinos ligados à natureza, sem aglomerações, mas que tenham uma estrutura de segurança, onde ele possa ter a quem recorrer caso tenha algum problema.


• E olha a tecnologia mais uma vez: para a retomada do setor, que será feita seguindo as orientações dos órgãos estatais e de saúde, além do papel informativo fundamental do operador de viagens, o turismo terá a tecnologia como uma das maiores aliadas: seja por meio de aplicativos para controlar o fluxo de turistas, como já existe na Floresta Negra, por exemplo, ou por plataformas em que os hotéis e restaurantes coloquem as novas normas para que as pessoas já saibam dessas medidas antes de sair de casa.



Fonte: Hadassa Nunes